minha confissão

4 jun

e chegou o dia de sentir saudade do jeito que o sol fazia minha pele quente
sob o sol
sob o vento e o suor
incapacitada de descer escadas
de pedir o açúcar que faltou no bolo que nunca fez
o enigma do quarto ao lado
o arcabouço
o cadafalso
o inquerido
e as roupas atiradas pelo carpete
a urgência do ósculo
e a imprecisão de movimentos
a falha e o acerto
a ação que nunca se completou
desejo e as vozes da rua que designificam os sentidos da intenção de dizê-las, as palavras
em uma outra lígua
um código que não se abre
a covardia a trás da porta e as roupas do varal

rec(ei)ta

24 abr

o mundo e sua redondeza
não é possível editar o passado
talvez seja possível mentir
mas algumas coisas não se apagam
documentos lavrados na memória
resgatar imagens
e todas as roupas que deixei pra trás
todas as pessoas que já fui
a muiltiplicidade que faz meu todo
e a gratidão à todos que teceram minha colcha
mesmo quando o ponto deu errado
feliz com meus buracos do crochê

doing for you

12 abr

dias de cortar a garganta
socar o peito até explodir em sentimentos
e sair pro sol sorrindo
com vento na orelhas
se perder na cegueira de sol
no azul da linha quase tão longa quanto as de outrem
chapéu em flor
voando em dourado
para toda lembrança que quero esquecer
o perdão não é uma coisa fácil de conceder

ser o que se é

19 mar

hj andei até me perder
na cidade
andei até me achar
daí canso mais
por isso prefiro andar
canso antes
durmo
descanso
teus dias de silêncio voluntário

cardápios nababescos pra te consumir

26 out

cogumelos
os teus

jardins
saladas
lady bugs
cabelinhos de anjo
e uma cascata
eu

tomates cereja
uvas
queijos derretendo
como leite que escorre

carne suculenta
nogueiras derrubando castanhas sobre nós
selvageria
na doçura de uma tâmara
salgada no teu mar

uma caverna pra repousar
o calor da pele pra se acolher
minha língua e as bocas
se deleitando no teu banquete

um cervo
leoa
ave de rapina
lebre
caçador e caça

blitz

18 out

se soubesse de toda nudez que há embaixo da minha saia
não saía sem revistar minhas coxas

medo e conveniências

14 out

quanto tempo é o tempo do outro???
a espera é um exercício desgastante de paciência
uma submissão compulsória em relação aos sentimentos daquele que espera
a espera é uma solidão a dois
é a obrigação e o vício do gostar do outro
a espera é um elástico flácido
que mais conecta que sustenta uma união
também afasta
e desinteressa
o incômodo companheiro
do triângulo do meu amor

inacabado

12 out

ao fim
ao cabo
o que é apropriado??
rendas descosturadas
sonos sem fim
a mudez
o ostracismo
as garrafas de champagne que entorno declamando Nelson
o veludo verde da decoração cafona
a seda fluindo pela superfície da pele
o lençol de linho de uma cama remexida
o amanhecer brando e luzente
olhos que grudam com a maquiagem da noite anterior
o corpo dando sinais de desfazimento
um ar fresco percorre o quarto
balança as taças e a louça sobre a mesa
o sono nunca será retomado
nem nada daquilo que foi feito
o coração no peito acelerado
eu tinha tantos cílios que não pude notar
a distancia dos teus olhares
a decadência
as taças pelo chão
sentir a a delicadeza dos fios do tapete coma bochecha
e o espelho refletindo a maquiagem diluída
não me fazer esquecer o sabor amargo da distância

OS FANTASMAS DA MINHA VOZ

8 out

reencontrei a temperatura da luz do quarto da minha infância
fechar janelas
levar o lixo
e desligar as maquinas antes de dormir
a diferença de hoje é o tamanho da generosidade
que não é por obrigação e a disputa pelo centímetro cúbico
que no horário nobre vale vezes 100
a cada ano a gravidade incide com mais força
a readequação do espaço e a solução do carma
o filho de Rajnishi mesmo distante perde a cabeça e a fronteira se crava mais fundo
a panela é dela

teu cheiro e o meu ralo

7 out

se quer correr ao seu lado
deixe
abrace
objetos desaparecidos no limbo do quarto
de qual buraco negro falamos??
unhas pra te agarrar
minhas pernas que te soltam
a nossa liberdade e a nossa saudade
e os ciclos que nos dispõe um diante do outro
espera
segredos
teus sobressaltos
e a consciência do que sabemos pra eternidade
teu cheiro que emana de mim e se esvai pelo ralo do banheiro
rezando que um dia teu cheiro venha engarrafado
e que com mais freqüência eu tome banho de ti…